Reflexos e Reflexões...

HELEIETH SAFFIOTI


"A discriminação contra a mulher e o negro no Brasil é socialmente construída para beneficiar quem controla o poder econômico e político. E o poder é macho e é branco."



sábado, 6 de agosto de 2011

19 ANOS DO DIA DA MULHER NEGRA


Na sociedade machista, patriarcal, racista e capitalista em que vivemos a situação da mulher tem sido de opressão, violência, racismo e desvalorização do seu papel enquanto cidadã. No que se refere à mulher negra, esta é ainda subjugada e excluída socialmente.

Para refletirmos um pouco melhor a situação da mulher e em especial da mulher negra em nossa sociedade ao longo de nosso processo histórico, compartilho com vocês este artigo originalmente publicado no Jornal A Tarde, no dia 25 de Julho de 2011. Escrito pela Vereadora, presidenta municipal do PT e presidenta da Comissão de Reparação da Câmara Municipal de Salvador, MARTA RODRIGUES.



19 ANOS DO DIA DA MULHER NEGRA

Julho é mês de celebração, de luta e resistência. A “independência” do Brasil foi alcançada graças ao povo baiano, que foi às ruas e caçou os portugueses. Nessa luta, devemos dar o devido destaque à líder Maria Felipa, mulher, negra, e heroína excluída dos relatos oficiais, que liderou um grupo de mulheres na Ilha de Itaparica durante o combate. Mas como Maria Felipa, várias outras heroínas negras que participaram de momentos históricos do nosso país não aparecem na história oficialmente contada.
No Brasil, a desigualdade e opressão às mulheres negras começaram há cinco séculos, com a invasão do país pelos portugueses e com a violação colonial perpetrada pelos senhores brancos contra as mulheres negras e indígenas. A mistura daí resultante está na origem de todas as construções de nossa identidade nacional. Essa violência sexual colonial é, também, o “cimento” de todas as hierarquias de gênero e raça, presentes em nossa sociedade.
Em 25 de julho é comemorado o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha e também o dia Municipal da Mulher Negra, em Salvador. As mulheres negras tiveram uma experiência histórica diferenciada que o discurso clássico sobre a opressão da mulher não tem reconhecido, assim como não tem dado conta da diferença que o efeito da opressão sofrida teve e ainda tem na identidade feminina delas. O 25 de Julho tenta romper com o mito da mulher universal e evidenciar as etnias, suas especificidades e desigualdades. Foi preciso destacar uma data para simbolizar quem somos e como vivemos.
Segundo estatísticas, as mudanças nas relações sócio-econômica, política e cultural, foram importantes, mas não realizaram transformações em estruturas como o sexismo, o racismo e a exclusão social. Em nosso país, esta perversa realidade é responsável pela situação de vulnerabilidade em que se encontra a maioria das mulheres negras.
No Brasil, as mudanças ocorridas no plano político, por exemplo, não significa que vivamos em perfeito estado democrático. A democracia pressupõe o efetivo exercício do ir e vir. Isto não é uma realidade para a população afrodescendente. As mulheres negras têm cidadania incompleta. A situação sócio-econômica, política e cultural delas, no geral, é muito ruim. Encontramo-nos abaixo da linha da pobreza, possuímos uma baixa escolaridade e estamos em situação de exclusão social.
Nós mulheres negras, neste inicio de século, ainda precisamos de políticas públicas em relação à saúde; à violência sexual e racial; ao trabalho; à educação e à habitação. Somos frequentemente agredidas ideologicamente, através da negação de nossa identidade. Sofremos a imposição dos padrões estéticos brancos e somos vítimas da exploração sexual e comercial da nossa imagem, principalmente nos meios de comunicação
No mercado de trabalho, mulheres negras detêm as maiores taxas de desemprego. As negras chegam a receber rendimentos 55% menores que os salários das mulheres brancas e constituem a maioria das trabalhadoras do mercado informal. De acordo com os dados do levantamento da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, brancas recebem em média, 4,6 salários mínimos, enquanto negras apenas 1,9 salário mínimo. Além disso, as últimas exercem as ocupações consideradas de maior vulnerabilidade, como a de trabalhadora doméstica.
As mulheres estão em pequeno número nos espaços de representação política, não atingindo a cota de 30% estabelecida em lei. No que se refere às mulheres negras o quadro piora. Estamos longe de atingir os espaços institucionais de poder, pois temos a menor taxa de escolarização e o menor acesso ao nível superior. Somos as maiores vítimas das desigualdades sociais, da violência, e da pobreza. Por isso, é importante que o 25 de julho seja visto como um passo na construção de uma sociedade onde as diferenças raciais, assim como as de gênero e classe, sejam erradicadas.


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